Novos dados sobre o registo de dinossáurios terópodes do Cretácico Superior de Espanha

 

Os trabalhos de investigação na jazida de Lo Hueco (Cuenca, Espanha) permitiram identificar restos fósseis de um dinossáurio carnívoro, com aproximadamente 75-70 milhões de anos, estreitamente relacionado ao grupo dos velocirraptorinos.

 

Os dinossáurios carnívoros são um dos grupos de animais extintos mais popular. Contudo, em diversos contextos o seu registo fóssil é relativamente escasso, como é o caso dos dinossáurios carnívoros do Cretácico Superior (Campaniano-Maastrichtiano) da Europa ocidental. Sabemos que, no final do Cretácico, esta parte da Europa estava povoada por terópodes primitivos do grupo dos abelissaurídeos e por uma combinação ainda pouco definida de membros de Maniraptora, principalmente atribuídos aos Dromaeosauridae, entre os que se incluem algumas aves. Os dentes destes animais são relativamente abundantes no registo fóssil, mas os restos não dentários são escassos e os únicos géneros descritos (Pyroraptor, Variraptor ou Tamarro) estão baseados em material muito limitado.

 

A jazida paleontológica de Lo Hueco (Cuenca, Espanha) é uma das localidades fossilíferas mais relevantes para o estudo das faunas de vertebrados continentais do Cretácico Superior da Europa. O registo fóssil de Lo Hueco é particularmente abundante em tartarugas, crocodilos e dinossáurios saurópodes, mas conta também com uma representação interessante de dinossáurios terópodes. Até ao momento, e a partir do registo de dentes, em Lo Hueco tinham-se identificado pelo menos quatro formas distintas de terópodes Maniraptora. O material ósseo atribuível a estes pequenos terópodes na jazida é abundante se o compararmos com o que se conhece em outras regiões da Europa, e está representado por restos isolados, muitos deles atribuíveis ao grupo dos dromaeossaurídeos. Não obstante, a diversidade representada na jazida é difícil de compreender até ao momento.

Imagem: Diferentes vistas da tíbia do dromaeossaurídeo de Lo Hueco e posição do elemento na silhueta de um velocirraptorino junto a uma silhueta humana como escala (créditos da silhueta do velocirraptorino: Scott Hartman).

 

Como parte da análise da fauna representada em Lo Hueco foi publicado recentemente na revista Diversity um trabalho em que se estudam elementos da extremidade posterior de um dinossáurio carnívoro composta por uma tíbia articulada com os ossos tarsais proximais. A anatomia destes restos foi comparada com a informação conhecida no registo fóssil europeu de terópodes do Cretácico Superior, concluindo que o exemplar de Lo Hueco é um dromaeossaurídeo com uma combinação de caracteres que permitem considerá-lo afim dos velocirraptorinos. Este exemplar é um dos poucos restos não dentários de dromaeossaurídos descritos até ao momento do Cretácico Superior da Península Ibérica e particularmente a presença de velocorraptorinos na Europa ocidental tinha sido interpretada, até ao momento, sobretudo por material dentário. A descoberta de restos esqueléticos de velocirraptorinos em Lo Hueco é importante porque abre as possibilidades de análise dos restos de terópodes ainda em estudo na jazida, contribuindo para uma melhor compreensão da composição e história evolutiva da fauna de terópodes europeus durante as últimas etapas do Mesozoico.  

 

O trabalho de investigação engloba distintos membros do projeto “DinoVillaba” do Plano Nacional de Investigação de Espanha e de vários projetos anuais de investigação do Património Arqueológico e Paleontológico de Castilla-La Mancha. No âmbito destes projetos, o estudo dos terópodes é desenvolvido pelo Grupo de Biología Evolutiva-UNED no qual participam investigadores do Instituto Dom Luiz da Facultade de Ciências da Universidade de Lisboa, do Museo Carmen Funes de Plaza Huincul (Neuquén, Argentina) e da Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED).

 

Referência:

Malafaia, E., Escaso, F., Coria, R. A., & Ortega, F. (2023). An Eudromaeosaurian Theropod from Lo Hueco (Upper Cretaceous. Central Spain). Diversity, 15(2), 141.  https://doi.org/10.3390/d15020141